Alma-negra

Alma-negra

Espécie Marinha

Procellariidae

Bulweria bulwerii

Bulwer's Petrel

Fenologia no ContinenteMigrador de passagem

Fenologia na MadeiraEstival reprodutor

Fenologia nos AçoresEstival reprodutor

Frequência de ocorrência

Continente

Madeira

Açores

Distribuição, movimentos e fenologia

A alma-negra tem uma distribuição pantropical ocorrendo nos três principais oceanos. Em Portugal, durante a época reprodutora (primavera, verão e outono), a alma-negra distribui-se principalmente por toda a ZEE da Madeira e dos Açores, ocorrendo tanto em mar aberto como junto à costa, particularmente nas ilhas da Madeira. Na ZEE do Continente, esta espécieocorre tanto no verão como no outono, mas apenas para lá da plataforma continental, evitando a costa[4]. No arquipélago dos Açores, a alma-negra nidifica no ilhéu da Vila (ilha de Santa Maria), suspeitando-se da nidificação, em muito pequeno número, nos ilhéus de Baixo e da Praia, junto à ilha da Graciosa[8][6]. É um reprodutor abundante no arquipélago da Madeira, particularmente nas ilhas Desertas, nidificando em menor número nas ilhas Selvagens, no ilhéu do Farol (na ponta oriental da Madeira) e nos ilhéus do Porto Santo[6][14]. Os escassos dados relativos à dispersão pós-nupcial (obtidos na Selvagem Grande) sugerem que as aves migram em direção a sudoeste, para águas profundas equatoriais[12].

Abundância e evolução populacional

No ilhéu da Vila, a população reprodutora foi estimada em 45 a 48 casais[2]. Não existem estimativas fidedignas da população reprodutora no arquipélago da Madeira, apesar de as colónias de alma-negra nas Desertas, e também nas Selvagens, serem consideradas as principais áreas de nidificação no Oceano Atlântico[1], seguramente albergando vários milhares de casais. Antes da colonização humana e da introdução de predadores, esta espécie deverá ter sido muito abundante em várias ilhas dos Açores e da Madeira[8].

Ecologia e habitat

A alma-negra é uma ave marinha solitária altamente pelágica, visitando terra apenas para nidificar[5], colocando os ninhos em amontoados de calhaus e em pequenas cavidades nas rochas. A sua dieta é composta por peixes mesopelágicos, cefalópodes e alguns crustáceos[13][9]. Suspeita-se que se alimenta durante a noite, aproveitando a migração vertical das presas para a superfície da coluna de água.

Ameaças e conservação

Atualmente as colónias de almas-negras estão restritas a ilhas e pequenos ilhéus livres de predadores exóticos, tais como ratazanas, gatos e mustelídeos, constituindo estes predadores a sua principal ameaça em Portugal, tendo exterminado as populações nas ilhas onde foram introduzidos. Nos Açores, onde outrora deverá ter sido mais abundante, está atualmente ameaçada. Neste arquipélago, a pequena população do ilhéu da Vila parece sofrer com a competição direta com a cagarra e com a falta de habitat disponível para a nidificação[10][2]. Na ilha da Selvagem Grande é conhecida a predação de adultos e de crias por gaivotas[7], no entanto o impacto desta ameaça na população é ainda mal conhecido. Outros fatores de mortalidade podem estar relacionados com a ingestão de detritos marinhos sintéticos[3] e a poluição luminosa[11].

Referências

  1. BirdLife International (2004). Birds in Europe: population estimates, trends and conservation status. BirdLife International (BirdLife Conservation Series No. 12), Cambridge

  2. Bried J & Bourgeois K (2005). Which future for Bulwer’s petrel in the Azores? Airo 15: 51-55

  3. Carvalho AT (2012). Ecologia alimentar de duas aves pelágicas das Ilhas Selvagens. Dissertação para obtenção de grau de Mestre em Biologia da Conservação. Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Lisboa

  4. Catry P, Costa H, Elias G & Matias R (2010a). Aves de Portugal, Ornitologia do Território Continental. Assírio e Alvim, Lisboa

  5. del Hoyo J, Elliott A & Sargatal J (eds.) (1992). Handbook of the birds of the world. Vol. 1. Lynx Edicions, Barcelona, Spain

  6. Equipa Atlas (2008). Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (1999-2005). Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Parque Natural da Madeira e Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Assírio & Alvim, Lisboa

  7. Matias R & Catry P (2010). The diet of Atlantic yellow-legged gulls (Larus michahellis atlantis) at an oceanic seabird colony: estimating predatory impact upon breeding petrels. European Journal of Wildlife Research 56: 861-869

  8. Monteiro LR , Ramos JA & Furness RW (1996a). Past and Present status and conservation of the seabirds breeding in the Azores. Biological Conservation 78: 319-328

  9. Neves VC, Nolf D & Clarke MR (2011a). Diet of Bulwer’s Petrel (Bulweria bulwerii) in the Azores, NE Atlantic. Waterbirds 34 (3): 357-362

  10. Ramos JA, Monteiro LR , Sola E & Moniz Z (1997). Characteristics and competition for nest cavities in burrowing Procelariiformes. The Condor 99: 634-641

  11. Rodríguez A, Rodríguez B & Lucas M P (2012). Trends in numbers of petrels attracted to artificial lights suggest population declines in Tenerife, Canary Islands. Ibis 154: 167-172

  12. Zino F, Philips R & Biscoito M (2012). Bulwer’s Petrel movements at sea – a preliminary analysis of datalogger results from Selvagem Grande. Birding World 26(2): 79-81

  13. Zonfrillo B (1986). Diet of Bulwer’s petrel Bulweria bulwerii in the Madeiran archipelago. Ibis 128: 570-572

  14. Equipa Atlas (2013). Atlas das Aves do Arquipélago da Madeira.