Borrelho-de-coleira-interrompida

Borrelho-de-coleira-interrompida

Espécie Limícola

Charadriidae

Charadrius alexandrinus

Kentish Plover

Fenologia no ContinenteResidente, migrador de passagem e invernante

Fenologia na MadeiraResidente, migrador de passagem e invernante

Fenologia nos AçoresResidente, migrador de passagem e invernante

Distribuição, movimentos e fenologia

O borrelho-de-coleira-interrompida nidifica em praticamente todos os continentes (com a exceção da Oceânia). No Paleártico encontra-se amplamente distribuído em latitudes médias e baixas[3], incluindo o território continental português e, pontualmente, os arquipélagos dos Açores e da Madeira[4]. Ao longo do litoral nacional este borrelho apresenta uma distribuição ampla em praias, estuários e zonas lagunares costeiras (particularmente onde existem sistemas dunares e complexos de salinas); no interior é raro e localizado[4]. Fora da época reprodutora a distribuição geográfica da espécie parece coincidir, em traços muito gerais, com aquela registada no período da nidificação. Os dados do Projeto Arenaria[10] sugerem, contudo, uma abundância reduzida no sul do país, comparativamente às praias do norte e do centro. As populações nidificantes em Portugal são parcialmente migradoras[5], mas pouco sabemos sobre a extensão dos seus movimentos ou sobre a percentagem de indivíduos sedentários. Por Portugal passam em migração (a caminho de África) borrelhos oriundos de latitudes mais elevadas na Europa, sendo que aqui também invernam aves de outros países europeus[1]. O fluxo migratório é particularmente notório na segunda metade do verão e no início do outono.

Abundância e evolução populacional

Não existem estimativas minimamente rigorosas da população nidificante em Portugal, mas ela deverá com certeza exceder os 1000 casais (ver diversos estudos parcelares citados em Catry et al. 2010a). A população invernante conta com cerca de 3000 a 4000 indivíduos[1], dos quais aproximadamente 17% invernam na costa marinha[6]. As contagens de aves nas principais zonas húmidas portuguesas sugerem que a população invernante deverá ter conhecido um incremento ao longo das décadas mais recentes[1].

Ecologia e habitat

Ao longo do ciclo anual, este borrelho é particularmente numeroso em complexos de salinas e em zonas com sedimentos mais grosseiros de estuários e “rias”. No litoral marinho encontra-se em praias amplas com sistemas dunares associados, onde nidifica e também passa a estação não reprodutora. Apresenta preferência por praias com alguma diversidade no tipo de substratos (embora com predomínio de areia) e pouco perturbadas por pessoas e por cães[7]. A dieta é formada por invertebrados aquáticos e terrestres[2] e por vezes até por pequenos peixes[1].

Ameaças e conservação

Em termos gerais a população nacional não parece severamente ameaçada, embora localmente o abandono ou reconversão de salinas, a predação de ninhos por cães e a perturbação humana nas praias e dunas possam ter um impacto negativo assinalável na população reprodutora[9][8].

Referências

  1. Catry P, Costa H, Elias G & Matias R (2010a). Aves de Portugal, Ornitologia do Território Continental. Assírio e Alvim, Lisboa

  2. Cramp S & Simmons KEL (eds.) (1983). The birds of Western Palearctic, Vol. III. Oxford University Press, Oxford, New York

  3. Delany S, Dodman T, Stroud D & Scott D (2009). An atlas of wader population in Africa and western Eurasia. Wetlands International, Wageningen

  4. Equipa Atlas (2008). Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (1999-2005). Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Parque Natural da Madeira e Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Assírio & Alvim, Lisboa

  5. Jackson C (1993). Ecologia do borrelho-de-coleira-interrompida Charadrius alexandrinus como nidificante na Ria de Alvor e seu estatuto migratório. Relatório Anual de A Rocha Ano de 1992: 17-25

  6. Lecoq M, Lourenço PM, Catry P, Andrade J & Granadeiro JP (2013). Wintering waders on the Portuguese mainland non-estuarine coast: results of the 2009-2011 survey. Wader Study Group Bull. 120: 66-70

  7. Lourenço PM, Catry P, Lecoq M, Ramírez I & Granadeiro JP (2013). The roles of disturbance, geology and other environmental factors in determining abundance and diversity in coastal avian communities during winter. Marine Ecology Progress Series 479: 223-234

  8. Norte AC & Ramos JA (2004). Nest-site selection and breeding biology of Kentish plover Charadrius alexandrinus on sandy beaches of the Portuguese west coast. Ardeola 51: 255-268

  9. Pardal J (2000). Importância das salinas da Ilha da Morraceira para o sucesso reprodutivo do Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) e do Perna-longa (Himantopus himantopus). Dissertação de Mestrado, Universidade de Aveiro

  10. Projeto Arenaria (2014). Monitorização da distribuição e abundância de aves nas praias e costas de Portugal