Cagarra

Cagarra

Espécie Marinha

Procellariidae

Calonectris borealis

Cory's shearwater

Fenologia no ContinenteEstival reprodutor

Fenologia na MadeiraEstival reprodutor

Fenologia nos AçoresEstival reprodutor

Frequência de ocorrência

Continente

Madeira

Açores

Distribuição, movimentos e fenologia

A cagarra reproduz-se em praticamente todas as ilhas e ilhéus dos arquipélagos das Berlengas, dos Açores e da Madeira. No mar, a espécie ocorre em quase toda a ZEE portuguesa, encontrando-se muito raramente no inverno. As primeiras aves chegam às áreas de reprodução entre fevereiro e março, de acordo com a localização das colónias, e os últimos juvenis abandonam o ninho no início de novembro[3][5]. Existem diferenças sazonais importantes na distribuição marinha da cagarra na ZEE portuguesa (ver mapas). Em torno do Continente há uma clara concentração sobre a plataforma continental, nomeadamente na costa oeste. Nos Açores, as cagarras encontram-se em águas mais profundas, sendo notória a deslocação para áreas de alimentação mais a norte durante o verão. Pelo contrário, na Madeira há uma menor dispersão das aves durante esse período. Após a época de reprodução, viajam para os seus locais de invernada situados sobretudo no Atlântico Sul, mas alguns indivíduos permanecem no Atlântico Norte e outros penetram no Oceano Índico[1][2].

Abundância e evolução populacional

A cagarra é provavelmente a ave marinha mais abundante que nidifica em Portugal. Nas Berlengas a população foi estimada em 980 a 1070 casais em 2011[8]; na ilha do Corvo (Açores) em 3735 a 10 524 casais em 2012[9] e na Selvagem Grande, foram estimados 29 540 casais em 2005[4]. Não existem estimativas precisas para as restantes ilhas dos Açores, da Madeira, das Desertas e do Porto Santo. No caso da Selvagem Grande tem-se registado um crescimento de 4,6% ao ano no número de casais reprodutores desde o início da década de 1980, estando esta população ainda a recuperar dos massacres de 1975 e 1976. Nas Berlengas a população reprodutora cresceu 10,1% ao ano no mesmo período também como resultado de medidas de conservação[7]. Há mais de um século que a área de distribuição em Portugal permanece estável.

Ecologia e habitat

A cagarra é uma ave essencialmente pelágica, sendo regularmente observada a partir da costa durante a época reprodutora. Nas nossas águas alimenta-se principalmente de pequenos peixes pelágicos (e.g. sardinha, carapau, cavala, peixe-agulha) e de cefalópodes[11][10]. Nidifica exclusivamente em ilhas e ilhéus. Os ninhos localizam-se em cavidades naturais, como fendas nas rochas, ou sob amontoados de pedras, ou podem ser escavados pelas aves no solo, sendo muito raro encontrar ninhos expostos.

Ameaças e conservação

As ameaças atuais a esta espécie resultam principalmente da introdução de predadores nas áreas de reprodução, da perda de habitat derivada da expansão urbana, da poluição luminosa que leva à desorientação de juvenis e da captura acidental em artes de pesca. Apesar da proteção legal e da redução significativa na captura ilegal de crias nos últimos anos, poderão ainda ocorrer alguns eventos pontuais de captura ilegal. A erradicação de predadores introduzidos é uma medida importante para a conservação da cagarra, sendo necessário ponderar as relações tróficas existentes entre as várias espécies de mamíferos antes de qualquer intervenção[6].

Referências

  1. Catry P, Dias M, Phillips RA & Granadeiro JP (2011a). Different means to the same end: long-distance migrant seabirds from two colonies differ in behaviour, despite common wintering grounds. PLoS ONE 6: e26079

  2. Dias MP, Granadeiro JP, Phillips RA, Alonso H & Catry P (2011). Breaking the routine: individual Cory’s shearwaters shift winter destinations between hemispheres and across ocean basins. Proceedings of the Royal Society B 278: 1786–1793

  3. Granadeiro JP (1991). The breeding biology of Cory’s shearwater Calonectris diomedea borealis on Berlenga Island, Portugal. Seabird 13: 30-39

  4. Granadeiro JP, Dias M, Rebelo R, Santos C & Catry P (2006). Numbers and population trends of Cory’s shearwater Calonectris diomedea at Selvagem Grande, Northeast Atlantic. Waterbirds 29: 56-60.

  5. Henriques AC (2010). Impacto dos predadores introduzidos na Ilha do Corvo no sucesso reprodutor das populações de Cagarro (Calonectris diomerea borealis). Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Gestão e Conservação dos Recursos Naturais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa e Universidade de Évora.

  6. Hervías S, Henriques A, Oliveira N, Pipa T, Cowen H, Ramos J A, Nogales M, Geraldes P, Silva C, Ybáñez R R & Oppel S (2013). Studying the effects of multiple invasive mammals on Cory’s shearwater nest survival. Biological Invasions 15: 143-155.

  7. Lecoq M, Catry P & Granadeiro JP (2010). Population trends of Cory’s Shearwaters Calonectris diomedea borealis breeding at Berlengas Islands, Portugal. Airo 20: 36-41

  8. Lecoq M, Ramírez I, Geraldes P & Andrade J (2011). First complete census of Cory’s shearwaters Calonectris diomedea borealis breeding at Berlengas Islands (Portugal), including the small islets of the archipelago. Airo 21: 31-34.

  9. Oppel S, Hervías S, Oliveira N, Pipa T, Silva C, Geraldes P, Goh M, Immler E & McKown M (2014). Estimating population size of a nocturnal burrow-nesting seabird using acoustic monitoring and habitat mapping. Nature Conservation 7: 1-13

  10. Paiva VH , Geraldes P, Marques V, Rodríguez R, Garthe S & Ramos JA (2013a). Effects of environmental variability on different trophic levels of the North Atlantic food web. Marine Ecology Progress Series 477: 15-28

  11. Xavier JC, Magalhães MC, Mendonça AS, Antunes M, Carvalho N, Machete M, Santos RS, Paiva V & Hamer KC (2011). Changes in diet of Cory’s shearwaters Calonectris diomedea breeding in the Azores. Marine Ornithology 39: 129-134.